O Projecto LIFE SOS Freira do Bugio, coordenado pelo Parque Natural da Madeira em parceria com a Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA) acaba de revelar que o nível de divergência genética encontrado entre os indivíduos de Freira do Bugio - Pterodroma feae - da Madeira e Cabo Verde é significativamente diferente, e por este motivo as duas populações devem ser consideradas duas espécies distintas. Estes resultados vêm confirmar a existência de uma nova espécie de ave marinha em Portugal, uma noticia de enorme relevância pois esta passa a ser uma das espécies de aves mais ameaçadas devido ao reduzido número de indivíduos existentes, revela a SPEA. O Projecto SOS Freira do Bugio, financiado pelo Programa LIFE Natureza, está a decorrer desde 2006 e pretende desenvolver diversas acções orientadas para melhorar o conhecimento de uma das aves mais raras do Mundo - a Freira do Bugio - ave que apenas nidifica no planalto Sul da ilha do Bugio, no arquipélago das Desertas, a 30 km da Ilha da Madeira.Tal como explica a SPEA, em comunicado, a Freira do Bugio é uma ave que faz buracos no chão, com mais de um metro de profundidade durante a época de nidificação (Junho-Novembro) e visita a ilha apenas de noite, de modo a evitar os possiveis predadores, passando o seu dia-a-dia no mar. Todavia, embora o projecto inclua a realização de censos marinhos e a identificação das suas principais áreas de alimentação no mar, a sua vida continua a permanecer um mistério ainda por desvendar.
As populações desta espécie presentes na Madeira e Cabo Verde já tinham sido alvo de interesse no que respeita às dúvidas sobre se seriam espécies distintas, pois de acordo com estudos anteriores, estas populações foram apontadas como pertencentes a subespécies diferentes, o que era já contestado por alguns autores. Como resultado da análise molecular entre as duas populações, realizada em parceria com o Laboratório de Genética Humana da Universidade da Madeira (LGH), foi verificado que o nível de divergência sequencial é significativamente diferente para que as duas populações em estudo fossem consideradas duas espécies distintas. Outro factor que corrobora o resultado de serem espécies diferentes é o desfasamento existente na época de reprodução destas duas populações, bem como o isolamento geográfico.
Segundo Dília Menezes, coordenadora do Projecto (PNM), “este resultado é sem dúvida muito importante do ponto de vista da biodiversidade, em que temos mais uma espécie que agora apresenta um estatuto de conservação ainda mais delicado, pois passamos a ter uma população circunscrita a uma única área de nidificação e com um efectivo muito menor. Isto leva-nos a ter uma maior responsabilidade na conservação e gestão desta espécie”.
Iván Ramírez, Coordenador do Programa Marinho da SPEA acredita que “A Freira do Bugio provavelmente vai ser reclassificada como “Em Perigo” pela IUCN, o que aumenta a responsabilidade nacional para a preservar. A conservação da área de nidificação e a melhora do conhecimento desta espécie no mar é fundamental, neste sentido, esperamos que a marcação individual que começamos o ano passado com data-loggers nos permita conhecer com maior detalhe os seus movimentos e conseguir uma protecção total desta nova espécie de ave endémica da Madeira”.
De acordo com a SPEA, os resultados da análise genética, assim como o progresso do projecto, serão apresentados internacionalmente no Congresso Mundial da BirdLife International, a maior federação de ONGs dedicada ao estudo e conservação das aves do mundo, da qual a SPEA é a representante em Portugal.
Imagem: Pedro Geraldes
Fonte: www.cienciapt.info/pt/index.php?option=com_content&task=view&id=40554&Itemid=1