A presença de um sistema químico sensorial capaz de detectar a presença de alimento e predadores é algo comum nos seres vivos, estando bastante desenvolvido naqueles que habitam o meio marinho.Estas capacidades olfactivas em alguns organismos têm um certo grau de complexidade, como por exemplo nos carpas Pimephales promelas, que consegue detectar o número, tamanho proximidade do seu predador apenas com pistas químicas. Outros conseguem mesmo usar o olfacto para detectar a dieta de um predador, avaliando assim o tipo de perigo a que estão expostos.
Existe um certo preconceito gerado em torno das capacidades olfactivas das aves. Salvo algumas excepções, como é o caso dos Fulmares que conseguem detectar plâncton e peixe a Km de distância, estas são normalmente caracterizadas com um fraco poder olfactivo, um “fraco sentido de cheiro”.
Mas ao longo da evolução, as aves conservaram as suas estruturas neurológicas e anatómicas capazes de utilizar pistas olfactivas em alguma extensão. O tamanho e complexidade do bolbo olfactivo variam imenso de acordo com a espécie sendo reflexo de capacidades adaptativas dos grupos taxonómicos.
Os Passeriformes são aqueles considerados como os detentores dos bolbos olfactivos mais pequenos…De modo a desmitificar esta ideia, alguns cientistas propuseram-se a realizar estudos em que a capacidade de cheirar um predador fosse colocada à prova.
Utilizando vários passeriformes (cartaxos, melros e tordos), capturados em alimentadores, foram expostos a um sistema de alimentação/ventilação. Durante o tempo de alimentação (com sementes habituais) as aves eram expostas a três cheiros diferentes (num sistema de fluxo de ar): fezes de gato, fezes de coelho e água, sem nunca ver o estimulo a que estavam sujeitos.
Após a análise das gravações, notou-se que o tempo que a ave levava a começar a comer, o tempo de alimentação e do estado de vigilância eram diferentes nos vários estímulos. Estas reagiram significativamente à presença de uma pista de gato. Notou-se também um atraso no inicio da alimentação na presença das pistas de mamíferos, enquanto o comportamento da ave era normal, quando apenas a água era o estimulo.
Este estudo simples é uma evidência de que as aves também podem usar o cheiro para avaliar a meio em redor enquanto se alimentam e detectar uma possível situação de risco.
Este género de estudos em comportamento animal tornam-se importantes na medida que nos permitem perceber determinados mecanismos ecológicos. A Ecologia é uma parte da ciência que nos ajuda a entender como os seres vivos interagem entre si e no meio. Entender o meio ambiente é uma forma de melhor preservar a Natureza, contribuindo para um convívio harmonioso entre todos.
Referências:
Roth, TC; Cox, JG; Lima, SL; (2008). Can foraging birds assess predation risk by scent? Animal Behavior, doi:10.1016/j.anbehav.2008.08.002
Roper, TJ.; (1999). Olfaction in birds. Advances in the Study of Behavior, 28, 247e332.